terça-feira, 18 de maio de 2010

Ensaio sobre o ato de observar e/ou uma possível perda.


Gosto de sair por ai observando as árvores, as casas, as ruas, as pessoas, enfim, tudo o que esteja ao meu redor, tem alguma coisa no ato de observar que me faz enxergar as coisas diferentes... Bem, todas as tardes eu ia a uma praça no centro da cidade rodeada por lojas, bancos, restaurantes e algumas igrejas,  onde eu sentava num banco, que me permitia ver tudo o que acontecia, via as pessoas passando, umas que corriam outras que parecia estar perdidas, algumas que passeavam com seus ternos e outros que pedia algum dinheiro pra comprar comida, ou tomar uma pinga... E como eu olhava aquelas pessoas, era como se eu conhecesse cada uma delas. E elas não percebiam que eu estava ali a observá-las, pra elas não fazia a menor diferença todos estavam sempre ocupados demais com suas obrigações, exceto uma mulher, que sempre estava por ali geralmente do outro lado da rua, ela chegava quando eu já estava lá, me encarava por alguns minutos e ia embora, e isso acontecia todos os dias. Estava sempre bem arrumada, trajava vestidos que desenhavam seu corpo e sempre combinavam com suas jóias, maquilagens e sapatos, seus cabelos castanhos claros parecia ser de uma maciez sem explicação, confesso que tinha um certo tesão por ela, mas, nem levava muito a sério, como diz o ditado “era muita areia pro meu caminhão”.
Certa tarde, quando cheguei percebi que algo estava diferente, não demorou muito para ver que Ela já estava lá e me olhava, só que desta vez não me olhava como antes era um olhar lindo, doce e ao mesmo tempo agressivo, fui ficando sem ar, foi como se ela tivesse me hipnotizado e mal pude perceber que ela já estava do meu lado, abriu um leve sorriso e antes que eu pudesse falar qualquer coisa, senti sua mão tocar meu rosto e deslizar pelo meu braço até minha mão, não entendi a principio o que estava acontecendo, mas, posso garantir que gostava daquilo, foi quando ela me falou que me achava lindo, que o meu cheiro tinha o melhor aroma já sentido por ela, que sua pele não podia mais esperar para tocar a minha, nessa altura eu já me sentia o homem mais poderoso de todos, também não era pra menos depois de tantos elogios vindos daquela mulher tão linda e gostosa, perguntei seu nome e ela fixou os olhos em mim e disse que queria sair dali, o que concordei de imediato, e ela foi à frente me guiando por entre as pessoas e foi quando de relance pude ver pela última vez o banco que durante tanto tempo foi meu companheiro.  Andamos por alguns minutos e eu até tentei estabelecer uma conversa, mas, ela me silenciou com carinhos e aquele olhar hipnotizante, logo desisti de estabelecer qualquer coisa, a não ser desejá-la, ou melhor me sentir desejado por ela.
Chegamos numa rua escura com prédios antigos descuidados e sujos, mas, isso não importava, não estava ali no papel de agente sanitário ou algo do tipo, estava ali por causa dela ou talvez minha se é que vocês me entendem.
Entramos num daqueles prédios e ela conversou um pouco com a pessoa que estava na recepção, e subimos sete andares por uma escada sem corrimão, logo no segundo andar já estava cansado, mas, aquele corpo coberto pelo vestido vermelho que evidenciava suas curvas e sua bunda, e que bunda aquela, foi que me deu força para cumprir a jornada escada acima.
Já no quarto ela trancou a porta e me jogou na cama com uma agressividade que até aquele momento não tinha sido demonstrado, achei um pouco estranho sua mudança de comportamento, mas, preferi entrar no jogo, fui tirando a roupa enquanto ela puxava uma cadeira, ela se aproximou me olhou e pediu para que eu sentasse na cadeira, o que eu fiz sem hesitar, ela amarrou minhas mãos e disse ao meu ouvido: não é aquele banco velho que você costumava sentar para ficar olhando a vida dos outros... E me virou para a janela e em seguida vendou meus olhos e começou a rir, ria muito, gargalhava, ela até que tentava falar alguma coisa, mas não conseguia, depois de algum tempo já sem ri, ela respirou fundo e falou calmamente: E agora o que você vai fazer? Como se sente diante de uma janela e não poder ver nada?  Eu não tinha o que responder já não sabia mais o que estava fazendo ali, e se afastando ela ainda disse: Quem sabe agora você não olha um pouco pra você! Pude ouvir seus passos a porta abrir e se fechar, e tudo então silenciar. Neste momento Já não observo como antes.                                                                                                     .